sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Um anjo torto

Realmente vocês mulheres não precisam de nós, homens. Ganharam a liberdade, trabalham fora, o número de mães solteiras só aumenta, podem ter filhos sem nós, renda sem nós e a diversão esta ai noite a dentro, pode escolher o que irá fazer quando o sol cair.

Não, vocês precisam de nós, para apenas uma coisa, sussurrar bem baixo no ouvido o quanto vocês são lindas. Só para isso.

Patricia não era o exemplo de mulher escultural quando a conheci. Estava longe de estampar qualquer capa de revista masculina, ou até mesmo um catálogo qualquer de um supermercado, segurando qualquer produto. Porém ela tinha seus atributos especiais, e o resto deles estavam apenas escondidos sobre toda aquela roupa grande e pouco sensual que ela estava habituada a usar.

Seu rosto era uma ternura rara. Transcendia qualquer coisa que eu havia visto, seu sorriso era discreto e feliz ao mesmo tempo, ou seria discreto e triste? Era Monalisa, era Gioconda na minha frente, não tinha dúvidas.

Patricia era tão insegura, só usava camisetas, nenhum decote, tinha seios de fazer inveja a qualquer mulher, e não aproveitava essa vantagem. Tinha coxas de matar qualquer Panicat, fruto de anos de Ballet, escondidas em calças, mesmo em dias quentes.

Lembro-me de um dos nossos primeiros encontros, já após o primeiro beijo. Estava Sol, muito quente, havíamos combinado de nós encontrar em uma praça perto de nossas casas. Lá estava ela, de camiseta, calça, havaianas, cabelo solto, ouvindo Ipod, sentada no banco da praça. Para uma pessoa em início de relacionamento, eu não sabia se ela não queria chamar minha atenção, fazer-me deseja-la, ou se simplesmente não sabia como fazer. Juro que tenho aquela cena guardada na cabeça. Patricia ainda era gordinha, de modo que isso a incomodava, mas não a mim, porém não posso negar que era. Sabe, aquele dia, aquele dia que qualquer um taxativamente diria que ela era feia, gorda, cabelo desarrumado, eu a amei. Apesar de ter notado tudo isso, beijei-a e esqueci tudo isso, seu abraço me reconfortava, sua conversa me controlava, sua inocência me estimulava. Eu iria sussurrar em seu ouvido, você é linda. Ela não acreditaria, mas eu iria provar.

Outro dia destes marcantes, onde lembro-me muito bem de sua aparência, quando se meu amor tivesse se baseado nisso teria ido pelo ralo, onde qualquer um poderia taxativamente chama-la de feia, foi quando fui a sua apresentação de Ballet. Patricia era Bailarina, e que bailarina! Apesar de 1,70 e de se destacar das outras bailarinas menores, ela tinha uma leveza e sutilidade digna de um Ballet Russo. Lembro-me bem de sua fantasia de Soldadinha de Chumbo, ou seria de Paquita ? Não sei definir, mas acredito que você caro leitor tem um desenho na mente. Ela dançava e sorria, com o peito estufado, nariz empinado, olhando para o fundo da plateia. Girava pulava, na ponta do pé seu Ballet desenhava o meu encanto. Fez outra dança, a dança do Totó. Vestida de Cãozinho, com uma música muito da sensual de fundo fez uma dança solo para um teatro lotado, onde ela lambia a pata, coçava a orelha e balançava o rabinho. Como, porquê, essa mulher não acreditava em seu potencial ? Era a sublime sedução e beleza, e eu a tinha. Quando o espetáculo terminou fomos comer uma pizza com os amigos dela. Patricia estava suada, cansada, cabelo desgranhado, de crocs roxo, com uma roupa grande. Quando eu olhei, me apaixonei novamente, apesar de ter gravado exatamente tudo isso na minha mente, a imagem dela olhando para plateia, vestida de Soldadinho, de cãozinho, era mais nítido. Esse dia fui eu quem a abracei, ela estava cansada, na pizzaria ficou em meus braços, com a cabeça no meu ombro, enquanto eu tentava ganhar os amigos dela. Seu cabelo suado em meu ombro não me incomodava, sua testa com o cabelo grudado era só um pretexto para eu arruma-lo e beija-la.

Patricia, tão incomoda com sua aparência, mal sabia que eu já havia tido oportunidades de acha-la feia. E havia me apaixonado. Em quase 3 anos ouvi diversas vezes "Estou feia?" e todas as vezes respondi - "Está linda".

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